lunes, 27 de junio de 2011

Brasil. Voltar ou nao voltar !


Moro na Espanha há 7 anos.  Sou filho de espanhóis, portanto tenho dupla nacionalidade e consequentemente nao sou ilegal.  Nao ser ilegal é um quesito básico para morar em qualquer país do mundo. Do contrário você vai viver literalmente "à margem" da sociedade, sem um emprego decente, sem acesso a saúde, etc.

Bom, como dizia, cheguei ha 7 anos na Espanha. Sou formado em Administraçao de Empresas e tenho MBA. Consegui um emprego em uma empresa de desenvolvimento de software assim  que cheguei  em 2004, desde entao trabalho na mesma empresa até hoje. Portanto, consegui um emprego estável (por enquanto, a crise tá pegando) e tenho levado uma vida tranquila, batalhando todos os días, mas nao posso me queixar. 

Muitas pessoas me perguntam: QUANDO você vai voltar para o Brasil ? 

Bom, quando as pessoas usam a palavra "Quando" na pergunta, soa um pouco imperativo, como se eu tivesse obrigacao de voltar. E se eu nao quiser voltar ? Tem muito imigrante que saí do país com a intençao de nunca mais voltar, a nao ser que seus planos nao saiam como o previsto. Os meus planos foram cumpridos, entre altos e baixos, mas fui conseguindo as coisas que almejava.  Portanto, nao parece lógico você deixar para trás tudo aquilo que lutou muito para conquistar. 

Esta introduçao foi apenas um "aquecimento" para a pergunta: Voltar ou nao voltar ?

Parece clichê, mas pelos meus amigos e familiares, eu voltaria sim.  As amizades que fiz aqui na Espanha por muito que eu as valorize, nao se comparam aos meus amigos de infância e adolescência. Portanto, se tem algo que me faria "puxar" de volta para o Brasil sao os amigos. Só que os amigos, por melhores que sejam, nao podem resolver sua vida.  Todos nós temos que correr atras dos nossos objetivos, e muitas vezes para isso, você tem que se mudar para longe. Meus motivos para nao voltar sao outros:

Quem mora no exterior (principalmente na Europa e USA ou Australia e Japao), valoriza muito o fato de viver tranquilo. Você abre o jornal,  assiste o noticiario na TV e sao rarissimos os casos de homicidio ou latrocinio (roubo seguido de morte).  Desde que me mudei para a Espanha nunca mais me preocupei com violência. Há 7 anos que eu nao sei o que é cruzar com alguem estranho na rua.  E perder isso é perder qualidade de vida. 

Nao ser julgado pela roupa que visto ou pelo bairro que eu moro. Pessoal, neste quesito, o Brasil é uma tristeza. As pessoas estao continuamente analizando as roupas que você usa, o carro que você tem e o bairro onde vc mora.  É uma competiçao insana.  Paga-se 4.000 Reais por uma bolsa só para desfilar com ela no escritório. Compra-se um carro de 100.000 Reais só para chegar no churrasco e todo mundo ficar comentando. Muitas vezes essa bolsa vai ser paga em 24x sem juros no carnê, mas isso ninguém precisa saber. O negócio é se exibir. Isso é triste. Você vai em uma festa e se vê rodeado de "marcas" desfilando por todos os lados.  As pessoas fazem questao de dizer que pagaram caro, quando o natural seria se vangloriar por ter pago uma pechincha.   Isso é algo que me irrita e que pelo menos aqui na Espanha, onde eu vivo e com quem eu convivo eu nao vejo acontencer.  

Ter que dar satisfaçoes sobre minha vida.  Moro em um prédio que tem 4 apartamentos por andar.  Cruzo com meus vizinhos quase diariamente no elevador há anos,  e juro que eu nao sei o nome deles.  Ninguem no meu prédio sabe da minha vida, e o que é melhor NAO SE INTERESSAM pelo que eu faço. Cada um na sua.  No trabalho ocorre o mesmo. Eu saio de férias, e quando eu volto as pessoas no máximo perguntam se eu disfrutei. Nao ficam perguntando onde eu fui, onde eu comi, com quem eu fui, quanto custou o hotel, quanto custou a passagem de aviao, se eu comprei isso, se eu visitei aquilo, se eu pretendo voltar.... Quando morava no Brasil lembro que ao voltar ao trabalho das férias, o povo do escritório dizia: "Edu, a gente combinou de almoçar todos juntos para você nos contar TUDO sobre suas ferias".......  

Existem outros motivos que eu nao vou ficar expressando aqui, porque senao vou passar por chato. Mas envolve educaçao, bons costumes, civilidade, organizaçao, etc.  Posso ser chato,  mas acredito que muita gente concorda comigo. Só para resumir este post, eu só quero viver minha vida tranquilo, sem stress  e sem ter que dar explicacoes aos outros.  E acho que aqui na Espanha, de alguma forma, eu encontrei o que buscava. 

miércoles, 15 de junio de 2011

Algo do Brasil me faz falta?


Bom, para começar este post, já vou dizer que logicamente me fazem muita falta meus amigos e familiares, mas isso é meio óbvio (apesar de que eu conheço imigrantes (nao brasileiros) que disseram nao sentir falta de ninguem de seu país natal... Mas aí, cada um tem sua vida e seus apegos).

Este post é para falar o que eu sinto falta do Brasil, materialmente falando: 

Acho que de modo geral, quando você desembarca em um país estrangeiro (para viver por tempo indefinido), você estranha tantas coisas que parece que tudo do no Brasil faz falta. Mas aí o tempo passa, e você percebe que tem que colocar em pratica aquela palavrinha mágica de todo o imigrante: “adaptação”.


Quando eu cheguei à Espanha, senti falta de muitas coisas, uma delas por incrivel que pareça foi a  falta de um ralo no banheiro (e na cozinha). Na Espanha não existe ralo (o que eu nem acho tão grave, porque evita a indesejável entrada de insetos). Até o dia que eu descobri a fregona (foto), uma invenção espanhola, que eu acho bem prática. Agora que eu sou um exímio piloto de fregona, o ralo não me faz mais falta. Falando em ralo, desde que cheguei aqui há 7 anos, nunca mais vi uma barata.

Acho que o quesito comida é “hors concours”, para qualquer imigrante. A Espanha, na minha opinião, é um fracasso no que se refere a doces (comentei isso no meu post anterior: Orelha de Porco e outras bizarrices). Como eu não sou fanático por doces, não tive maiores problemas, mas admito que para quem adora aquele docinho brasileiro, as opções aqui são muito restritas.  Outra coisa que a Espanha não supera (mesmo) o Brasil, é no quesito “carnes”. Não são ruins, mas para quem gosta de uma bela picanha, é triste. Entre uma adaptação e outra, no que se refere à comidas de modo geral, não tenho maiores problemas. 

Não como doces, encontrei umas 2 ou 3 opções de carnes razoáveis, e do resto, estou bastante satisfeito com os produtos que encontro aqui. Aliás, morar na Europa te dá a possibilidade de encontrar milhares de produtos de outros países europeus no supermercado.  Você encontra tantos queijos, tantos iogurtes, tantos pães, biscoitos, vinhos, cervejas, etc,  e isso enriquece sua opções culinárias, e te ajuda a superar a falta de alguns produtos.

O único produto culinário que não tem substituto aqui é a farofa. Aí você tem que apelar á família quando vêm te visitar ou alguma loja de produtos brasileiros ou latinos (que são relativamente fáceis de achar nas grandes cidades). 

No que se refere ao ócio, aqui existe uma excelente oferta de livros e revistas, e eu que sou devorador de obras de história e politica, encontro de tudo.  Tem muitos livros de história e política publicados na Espanha que ainda são inéditos no Brasil. Outra coisa que me deixa enlouquecido de felicidade é poder comprar nos sites da Amazon e do Ebay tudo que eu gosto no que se refere a cultura (livros, filmes e musica), sem pagar impostos e por preços mega econômicos.

O meu problema aqui na Espanha no quesito ócio é um só: ”filme dublado”.  Não existe filme legendado, é tudo dublado. E eu tenho a impressão que a Espanha só tem um casal de dubladores, porque as vozes são muito parecidas em todos os filmes. A voz do James Bond é idêntica a voz do Shrek, e por isso eu já descartei ir ao cinema na Espanha há muito tempo. Gosto de filmes, mas menos mal que não sou fanático. Tenho amigos no Brasil que são cinéfilos, amam cinema a ponto de dormirem mal de ansiedade para ir a estreia de um filme. Aqui na Espanha, eles pegariam uma mega depressão. 


No que se refere a roupas, sei que as mulheres se queixam um pouco das roupas intimas espanholas, que sao 8 ou 80. Ou a calcinha é uma mega calçola, ou é um baita fio-dental.  Para os homens, roupa nunca foi um problema. Cuecas sao cuecas, calças sao calças e camisas sao camisas.  Em um casamento as mulheres tem mega problemas de arrumar um vestido novo, um sapato e uma bolsa que combinem e essa brincadeira sai caro. Um homem pega aquele terno que ja usou 10 vezes, troca de gravata (se quiser) e está tudo certo.


Cada um tem suas necessidades e cada pessoa é um mundo. Pessoalmente, eu acho que na Europa as carências são mínimas. A abertura de um mercado comum Europeu colocou nas prateleiras milhares de produtos dos 27 países membros da UE e isso para mim foi tão impressionante, que eu paulatinamente, fui mudando alguns hábitos e hoje consumo produtos que antes nem conhecia.

Posso quase apostar que, para muitos de nós, hoje a situação seria inversa: Se voltássemos a viver no Brasil, sentiríamos muita falta de produtos que hoje consumimos nos  países onde vivemos atualmente.